A Europa também é culpada?
Atualizado: 19 de mar. de 2021
Os atritos ente o Governo brasileiro e os Governos europeus são inúmeros: As discussões entre Jair Bolsonaro e Emmanuel Macron, a paralisação de verbas vindas da Noruega e da Alemanha para o Fundo Amazônia, as oposições ao acordo entre Mercosul e União Europeia. O negacionismo nacional ao lidar com o meio ambiente não é segredo para a população ou para a imprensa, mas pouco se vê críticas direcionadas à Europa acerca de sua responsabilidade quanto ao desmatamento e suas consequências.

Os dois primeiros anos da presidência de Jair Bolsonaro foram marcados por conflitos e uma extrema falta de diplomacia em relação a outros governos. Uma das divergências mais memoráveis foram os debates com a França. Em 2019, ocorreram incêndios na Amazônia muito mais acentuados do que nos anos interiores. Não é novidade para a imprensa a atitude de indiferença e omissão por parte da presidência a questões socioambientais, e o resultado disso foi um embate nas redes sociais do presidente, o que nos mostra mais uma vez o seu despreparo em meio a uma crise internacional e diplomática.
A França e a Europa, em geral, de fato passam por um momento de valorização de práticas sustentáveis e preocupação com a natureza. Entretanto, apesar de toda a preocupação expressa pelas atitudes do G7 - grupo formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido - e pela suspensão do Fundo Amazônia, ao que parece, tais apreensões só se resumem à política ambiental brasileira - que é sim culpada. Contudo, o encargo não pode e não deve cair apenas sobre o Governo brasileiro, a Europa também é responsável pelos desastres ambientais em nossos solos.
Desmatamento e culpa
Apesar dos protestos da União Europeia em relação aos incêndios na Amazônia e no Pantanal, o continente continua a importar produtos brasileiros diretamente relacionados com o desmatamento, como a carne e a soja. A pecuária e o agronegócio são dois dos maiores fatores para a redução de cobertura florestal, o que torna o ambiente muito mais propenso a espalhar o fogo em casos de incêndios criminosos.
De acordo com a especialista alemã em clima e energia, Carina Zell-Ziegler, a União Europeia foi a razão de um dos períodos com maior índice de desmatamento no Brasil. Somado a isso, há as emissões de CO2 devido às importações. Segundo Carina, em um estudo para a ONG German Watch, em 2005, 200 milhões de toneladas de CO2 foram causadas por essas atividades.
E a especialista, em entrevista à BBC News, defende um consumo consciente e sustentável como combate ao desmatamento: "É preciso que os padrões de consumo mudem. A Alemanha, por exemplo, não pode continuar com o consumo atual de carne, de mais de 1 kg por pessoa por semana. Isso não é sustentável". Além de sustentar a ideia de que fundos internacionais são de extrema importância para um país como o Brasil, que visa o lucro em seus recursos naturais.
Os protestos
Neste ano, ativistas do Green Peace se reuniram em frente ao Palácio Elysée para denunciar o presidente Macron como cúmplice pelo que acontece na Amazônia, por seu silêncio diante de uma tragédia assistida. A União Europeia está sendo cobrada para fiscalizar as importações vindas do Brasil, para que elas não sejam oriundas do desmatamento.
Além do protesto na França, a ONG também agiu na Bélgica, na capital Bruxelas, em frente à Sede da Comissão Europeia. Os militantes pedem por leis que promovam a sinalização de produtos que contribuem com incêndios florestais ou violações de direitos humanos.
Para saber mais:
BBC News: Consumo de países europeus impulsiona desmatamentos no Brasil
Rádio France Info: Greenpeace denuncia cumplicidade da França
Nexo Jornal: Qual a origem e o destino dos recursos do Fundo Amazônia